6 de abril de 2017

Mistérios, fantasias e a realidade

Recentemente um misterioso caso foi divulgado pela mídia. Um jovem rapaz brasileiro simplesmente “desapareceu”, deixando para trás inúmeros manuscritos criptografados, além de uma série de outros objetos misteriosos e uma estátua de um antigo filósofo italiano.

Várias teorias inundaram a Internet, desde ideias sobre o rapaz ter sido abduzido por seres extraterrestres, até a suposição de que ele possa ser um gênio querendo presentear o mundo com o legado de sua obra. Outros são mais céticos e afirmam que o rapaz estivesse sofrendo de algum tipo de transtorno mental. Uma vertente de pessoas especula que o garoto e a família estariam aliados em uma jogada de marketing para a publicação dos manuscritos.

Seja como for, esta situação nos intriga. Que motivos uma pessoa teria para agir desta maneira? O que passaria pela cabeça deste rapaz? Isto é fruto de algum transtorno ou é um sinal de genialidade? Não sabemos. Podemos apenas teorizar a respeito, como aliás “a Internet” já vem fazendo.

A verdade é que, assim como este, existem tantos outros casos semelhantes. No entanto, uma minoria ganha tamanha evidência. Jovens e adultos que se isolam por vários dias, que fogem de casa, que rompem com a família, que evoluem para um padrão muito diferente de pensamento e de comportamento existem aos montes por aí, mas ninguém presta atenção neles. Não raro, o lastro de sofrimento deixado por estes eventos é devastador!

É preciso respeitar as idiossincrasias de cada sujeito, que o tornam único e especial em sua essência e não são frutos de psicopatologia. Contudo, todo o comportamento que gere sofrimento significativo ou que culmine com a ruptura de um padrão prévio de funcionamento é digno de avaliação cuidadosa e, em alguns casos, profissional. Não se podem confundir sinais e sintomas psicopatológicos com virtudes ou com meras peculiaridades do indivíduo. Todavia, a linha que separa características de personalidade funcionais e adaptativas de alguns indícios de transtorno pode ser muito tênue. Atenção e cautela são, portanto, indispensáveis.

São muito importantes a instrução e o diálogo sempre aberto. Se for preciso, por que não procurar orientação profissional?

Manssur Gustavo Cassias Pereira
Psiquiatra ACP (CRM/SC 14263 RQE 10658)